Sobre feijões?
Essa minha história com os feijões começou cedo. Devia ter uns dez anos, talvez mais, talvez menos, quando comecei a perceber que o feijão representava muito mais do que um simples alimento que a maioria dos brasileiros comem todos os dias. Me dei conta que eu, moradora do estado de São Paulo, tinha em minha mesa todos os dias o feijão carioquinha. Pensava que isso era uma regra universal. Feijão carioquinha no dia-a-dia e feijão preto nos dias de festa. Mas eis que descobri que no Rio de Janeiro as pessoas comiam feijão preto todos os dias. Como assim? Meu mundo caiu. Então as pessoas não são todas iguais? Então o certo não é comer feijão carioquinha todos os dias?
Foi
aí que comecei a me encantar com os feijões. Adoro feijões, sim, mas adoro mais
o que eles significam para mim. Eles nos contam muito sobre a cultura do local de
onde as pessoas vem, seus hábitos, como enxergam o mundo. A partir daí comecei
com a idéia pirada de escrever um livro sobre feijões. Queria entrar na casa
das pessoas do mundo inteiro e perguntar como elas fazem seus feijões. Meus
colegas de escola sonhando em ser grandes médicos ou advogados, e eu querendo
aprender a cozinhar feijões.
Hoje
não quero descobrir puramente receitas sobre feijões. Desejo descobrir a emoção,
as memórias, a cultura que a culinária trás para cada um de nós ao redor do
mundo. Segundo o antropólogo Sidney Mintz, os hábitos alimentares rotineiros
que desenvolvemos ao longo de nossas vidas falam muito mais sobre quem
realmente somos do que pensamos. Os alimentos criam laços sociais poderosos com
o lugar em que crescemos e as pessoas que convivemos, construindo nossa
identidade, desse modo a maneira como nos alimentamos revela fortemente a
cultura em que estamos inseridos.
E
é disso que estou atrás. De descobrir histórias, culturas e hábitos diferentes
ao redor do mundo. Obviamente vou falar sobre feijões, ainda não desisti da
idéia do meu livro, por mais tosca que às vezes possa parecer. Mas também vou
falar sobre toda e qualquer receita que seja representativa para uma pessoa,
pois esse é meu objetivo, tentar entender e levar para sua casa, como diversas
pessoas ao redor do mundo enxergam essa paixão: a comida.
Até mais!
Até mais!
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